Quando ouvi o disco One Day Less, da
banda portuguesa Before the Rain, achei um bom álbum e vi que a
banda tinha um bom potencial. Quando foi anunciado que Gary Griffith,
ex-membro da extinta e lendária banda Morgion, se juntaria à
banda, as minhas expectativas pro segundo disco subiram bastante, já
que os vocais do primeiro disco não foram seu ponto mais forte, com
muito uso dos vocais falados que eu tanto desgosto. Já o split com a
banda finlandesa Shape of Despair, trouxe uma ótima faixa (Somewhere Not There) mas, no
entanto, eu não imaginava que, com seu segundo álbum completo, a
Before the Rain se tornasse responsável pelo lançamento de um dos
melhores álbuns de Death Doom que já ouvi.
O disco mantém um pouco daquela veia
do Death Doom noventista do disco anterior, com certa influência de
Anathema e My Dying Bride antigos e Morgion, mas agora com novos
elementos. O som está bem mais progressivo do que antes, mais
dinâmico e com muitas variações nas estruturas, andamentos e
melodias das músicas. Os andamentos predominantes são médios,
podendo ir a outros mais lentos ou mais rápidos em algumas
passagens. O trabalho das guitarras de Gary Griffith, Valter Cunha e Carlos Monteiro está maravilhoso, usando bases
pesadas em conjunto ou alternância com leads mais melódicos ou
repetições mais minimalistas e hipnóticas, típicas da banda. O
baixo de Pedro Daniel, no geral, cumpre um papel mais discreto no som, se focando
mais no peso, enquanto a bateria de Joaquim Aires apresenta um trabalho muitíssimo
bem executado, com um bom uso dos pratos e tons, que com certeza,
enriquece as músicas. Em boa parte do disco, é possível notar também várias camadas de guitarras e vocais, muitos arranjos harmônicos, o que torna o disco extremamente complexo e mais rico a cada audição, e que mostra que a banda soube aproveitar muito bem a opção que as três guitarras lhes traz ao vivo. Também é frequente o uso de pausas nas músicas, pra então haver completas transformações de atmosferas ou direcionamentos nas faixas. Cada detalhe do disco parece ter seu lugar e ele
nunca se torna óbvio, entediante ou sem propósito.
E na questão dos vocais, Gary
Griffith, junto com outros como Matt Lawson da The Prophecy e Frank
Brennan da Mourning Beloveth, se mostra um dos melhores
vocalistas da cena mais extrema do Doom Metal, mostrando uma
performance superior até mesmo ao seu trabalho na Morgion. Seus
vocais são versáteis, sua voz é marcante, seu senso melódico é
apurado e sua interpretação é magistral, carregada nos momentos
mais melancólicos, intensa ou suave conforme necessário. O disco
também é bem balanceado na distribuição dos vocais limpos e guturais, o que traz mais variedade e é definitivamente
essencial para bandas com essa proposta. Os vocais narrados ainda
marcam presença, mas desta vez se encaixam melhor nas músicas,
especialmente por não usarem os timbres “chorados”, comuns ao
primeiro disco e a bandas como o antigo Anathema e o atual My Dying
Bride.
O disco ainda traz, em alguns
momentos, a ótima participação de uma vocalista feminina, que
aparece como apoio aos vocais de Griffith ou, então, trazem maior atmosfera à música. Eu normalmente não costumo citar as
letras dos discos em minhas resenhas já que me foco mais no lado musical, mas as de Frail valem a menção.
Elas trazem um lado mais existencialista que eu particularmente gosto
bastante, muito bem escritas e que favorecem a interpretação
dramática do vocalista.
A primeira faixa, And the World Ends There, tem uma atmosfera
apocalíptica condizente com seu título e
letras, com excelentes linhas vocais. É uma faixa pesada, que
termina com um direcionamento mais rápido e mais Heavy tradicional.
Shards, a segunda, traz um momento mais arrastado e mais puxado para o
Funeral, que me lembrou o que o MDB fez no disco Turn Loose the
Swans.
A terceira faixa, Breaking the Waves, é a mais longa
do disco (17:32) e começa extremamente melancólica, com diversas
camadas de vocais sobrepostos. Nela, temos a primeira contribuição de
vocais femininos, alternando momentos atmosféricos com outros
pesados, para depois trazer uma pausa seguida de uma mudança
drástica para riffs pesadíssimos e um clima mais desesperado.
A quarta faixa, A Glimpse Towards the Sun, começa mais acústica e
nostálgica, indo pra algo mais agressivo no final, sendo a mais
curta do disco, com menos de nove minutos de duração.
A quinta faixa, Frail, que é a faixa-título do disco, já começa mais pesada
e direta, contando com um trabalho absolutamente fantástico de
guitarras, mas que ainda conta com partes atmosféricas. Esta faixa
até mesmo poderia ser dividida em duas pois se transforma, quase lá
pela sua metade, em uma longa viagem atmosférica acompanhada
novamente por vocais femininos melancólicos.
A sexta e última faixa, Peace Is
Absent, é uma épica e dramática faixa de pouco mais de nove
minutos quase que exclusivamente instrumental, com apenas cerca de
dois minutos cantados, cujos riffs lembram bastante o som apresentado
em One Day Less, e que fecha o disco com chave de ouro.
Este disco mostra que a Before the Rain
é uma banda com um grande potencial pra se tornar uma das maiores da
cena Doom. Resta saber se o próximo disco vai confirmar esse
potencial ou não, mas, com certeza, as expectativas para ele serão
bem altas. Mas independente disso, a banda já deixou um álbum
clássico marcado na história do Doom Metal. Se você é fã de um
Doom Metal rico, complexo e bem estruturado, Frail é um álbum
obrigatório!
Segue uma amostra do disco com o video oficial de uma versão encurtada da faixa-título:
Segue uma amostra do disco com o video oficial de uma versão encurtada da faixa-título:
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