sábado, 21 de julho de 2012

Resenha de Show – Eclipse Doom Festival V (SP/SP - 15/07/2012)


Aconteceu no último domingo, dia 15 de julho de 2012, a quinta edição do que é provavelmente o principal festival de Doom Metal brasileiro, o Eclipse Doom Festival. Pela primeira vez em São Paulo (anteriormente o festival acontecia na região Sul do país, onde a cena sempre foi muito bem representada), foi realizado desta vez no Manifesto Bar, um dos mais tradicionais bares de rock de Sampa, e que fica no Itaim Bibi.

A CASA E O EVENTO:

Pra quem não conhece (como eu até o dia), o Manifesto é uma casa de médio porte, bom para eventos como este, com muitos lugares pra sentar pra quem apenas quiser curtir os shows enquanto “toma umas” com os amigos, mas ainda com espaço pra quem quiser assistir de perto do palco. O acesso é fácil, com opções de ônibus, ou pelas estações Cidade Jardim da CPTM (mais próxima), ou Faria Lima do Metrô (uns 20 a 30 minutos a pé).

A entrada era de apenas R$15,00, nos ingressos antecipados via TicketBrasil, e de R$20,00 na porta.

As bandas a se apresentarem foram O Mito da Caverna, Mortarium e HellLight, mas o evento contaria também com a apresenção da Les Memoires Fall, de São José dos Campos, que não pôde comparecer devido a problemas de saúde de alguns membros. O evento também foi a “festa de lançamento” do CD Doomed Serenades, a 1ª coletânea brasileira voltada somente para o Doom Metal, e teve o apoio da União Doom Metal Brasil, responsável por esse lançamento.

Antes de falar sobre os shows individualmente, é preciso dizer que, por um lado, embora a acustica do Manifesto tenha me parecido boa e a altura dos intrumentos estivesse bastante confortável (nem saí do evento com os ouvidos zumbindo), por outro lado, as guitarras em todas as apresentações pareceram baixas e um pouco emboladas, principalmente nos riffs mais graves, sendo que em muitas partes ficaria impossível entender o que estava sendo tocado, se não fosse o baixo. Exceto por isso, tudo correu muito bem e o produtor, Daiton Arkn, está de parabéns pela organização e pela qualidade do evento, além da ousadia em trazê-lo para Sampa.


OS SHOWS:

O Mito da Caverna:

Cheguei ao Manifesto enquanto a banda O Mito da Caverna abria a noite, por volta de 18:50h. Embora a banda denomine seu estilo como “Grindcore Morto”, eu diria que o que eles fazem é, na verdade, um Sludge Doom com muita influência de Drone. O som é excêntrico, barulhento, pesado, experimental, usando dissonâncias, muitos ruídos e feedback de guitarra. Os vocais do Augusto Miranda são nervosos e o cara urra seus pulmões pra fora enquanto a banda alterna momentos de puro Drone, quando o som é mais introspectivo e pode não agradar tanto quem não é fã desta linha, com outros momentos do Sludge mais sujo, onde o som se torna mais empolgante e próprio pra banguear. O Mito tocou apenas duas músicas em cerca de meia hora, sendo que, entre as duas, houve uma pausa onde o vocalista fez um discurso de alguns minutos, a respeito das desigualdades sociais e da manipulação da mídia.

Vale ressaltar este forte apelo social nas letras e discursos da banda, fugindo bastante dos temas mais comuns do meio Doom, normalmente mais pessoais. A banda contesta todas as formas de preconceito, o fascismo e o direitismo político, e parece já ter conseguido algumas inimizades nas cenas Core, das quais ela é oriunda, devido a essa ideologia.

A postura da banda foi um tanto tímida, talvez por se sentir deslocada ao se apresentar pela primeira vez num evento exclusivamente Doom Metal, com os guitarristas e o baixista tocando a maior parte do tempo virados para a bateria e de costas para o público. Somente o vocalista demonstrou uma postura mais agressiva e à vontade, se movimentando bastante pelo palco.

Pra quem curte o Sludge, o Drone e os lados mais barulhentos do Doom, O Mito da Caverna é uma banda obrigatória. Pros que não conhecem a linha, com certeza, será uma experiência diferente assisti-los ao vivo.

Setlist:
1 - A Conquista da Colina (parte final da música)
2 - Anticapital (versão de uma música da banda Assück)/A Conquista da Colina




Mortarium:

A segunda banda a subir no palco foi a Mortarium, do Rio de Janeiro. É inevitável ressaltar que a banda é somente formada por mulheres e, isso, por si só, já chama a atenção. E o que as destaca ainda mais é o fato de que o som delas não tem nada de angelical e foge de todos os estereótipos possíveis que se atribuiriam a uma banda feminina. Nada de teclados, nada de vocais líricos, as meninas mandam um Death Doom na linha mais pesada, de andamentos médios na maioria com algumas levadas mais quebradas da baterista Julie Souza, alternando os vocais guturais da guitarrista Tainá Rodrigues com os vocais limpos da baixista Vivi Alves, com linhas de voz que soam mais sombrias do que melancólicas.

E eu tenho que fazer uma observação aqui: a banda acertou em cheio em colocar Vivi nos vocais após a saída da vocalista Laiane. Sua voz é mais potente e ela mostrou uma segurança e técnica muito maiores do que as vocalistas anteriores da banda. Além de, aparentemente, ela ter melhorado algumas linhas vocais que originalmente pareciam inseguras e fora de tom, as linhas feitas especificamente pra sua voz ficaram emocionantes, como na música Somewhere.

Embora algumas pessoas tenham sentido falta da segunda guitarra, pessoalmente, eu acho que a formação de trio funcionou bem, já que mesmo nas partes mais melódicas, o baixo segurou bem o peso, lembrando também o problema na equalização da guitarra que mencionei anteriormente. As meninas fizeram uma ótima performance, tecnicamente superior e mais coesa do que o material já gravado, fruto da experiência que elas vêm ganhando através dos shows que fizeram ao longo dos últimos meses. Tocaram, além das duas faixas do EP The Awakening of the Spirit, mais três faixas ainda não gravadas mais uma intro.

Resumindo: pra quem curte um Death Doom mais tradicional, na linha noventista e que, como eu, não são chegados nas bandas de Gothic Doom na linha do Draconian, pode conferir sem medo que o som da Mortarium é muito bom.

Setlist:
1 - Memories (Intro)
2 - Blue
3 - My Distress
4 - Somewhere
5 - The Awakening of the Spirit
6 - Celebrate Eternity




HellLight:

Pra fechar o evento, tivemos a banda que, hoje, é provavelmente a maior representante do Doom Metal nacional, a HellLight. Tendo aberto os dois últimos shows da banda Therion em SP, vêm conseguindo bastante destaque com seu disco mais recente, ...And Then, The Light Of Consciousness Became Hell e o EP The Light that Brought Darkness (lançados pela russa Solitude Recs).


A HellLight é uma daquelas bandas que consegue soar ainda mais intensa e pesada ao vivo. Os teclados (executados ao vivo pela Cássia) são muito bem encaixados e nunca se sobrepõem ao peso do som a menos que a música peça por isso, dando um clima melancólico, triste, à música. Composta por músicos bastante experientes, a apresentação da banda foi impecável, mas semelhante à sua apresentação anterior, no Doom Fest de São José dos Campos no início do ano, com o mesmo setlist, mudando apenas a ordem de duas músicas.

De diferente, fizeram a estréia de seu novo baterista, Evandro Camellini, que mesmo tendo se juntado à banda apenas dois dias antes do show em meio a problemas pessoais, levou sua parte com precisão. Também outra coisa a se destacar é o quanto o vocalista Fábio de Paula vem evoluindo nos vocais limpos, mais potentes e tecnicamente superiores ao que ouvi em gravações recentes e no Doom Fest. Seus vocais seguem a linha do Epic Doom e, com certeza, se tornaram uma característica marcante e que os distingue de outras bandas Funeral. Fábio cantou a parte final de Funeral Doom sem dificuldades, feito que não é pra vocalistas medianos.

Os problemas no som das guitarras persistiram durante a apresentação da HellLight, sendo que foi o baixo do Alexandre Vida o responsável a tornar discerníveis alguns riffs. A apresentação foi bastante climática e a banda tocou por cerca de uma hora, encerrando seu set com Deep Siderial Silence, uma longa viagem sonora que também encerrou também o Eclipse Doom Festival V.

Setlist:
1 - Marche Funebre
2 - The Light that Brought Darkness
3 - Afterlife
4 - Funeral Doom
5 - Deep Siderial Silence




Embora o Manifesto não estivesse lotado, o público compareceu em número muito superior ao do Doom Fest. Um sinal de que a cena Doom Metal esteja talvez, finalmente, começando a se unir e crescer. Esperemos que essa iniciativa sirva pra que outras como ela surjam. O público existe, resta aos produtores arriscarem e alcançarem esse público, e a ele, comparecer.

Confira videos das apresentações na página do Eclipse no Facebook:

Fotos por Pierre Cortes:
http://pierrecortes.blogspot.com.br/

Augusto (V) - O Mito da Caverna
Vivi Alves (V, B) - Mortarium













Alexandre Vida (B) - HellLight

Fábio de Paula (V, G) - HellLight





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