sexta-feira, 4 de maio de 2012

Resenha de Show – Doom Fest São José dos Campos (27/04/2012)

A madrugada do dia 27 para o dia 28 de abril de 2012 foi, pra mim e tenho certeza que para vários doomsters paulistas que foram à Hocus Pocus, o início da realização de um sonho. Pois até poucos anos atrás, um evento voltado unicamente ao Doom Metal em SP era apenas isso, um sonho. Até então, o que pudemos ver por aqui, até onde eu saiba, foram alguns escassos eventos, normalmente voltados ao público gótico, que já contaram com bandas como Avec Tristesse, Trinnity, entre outras, ou o Play Slow or Die, evento Drone/Sludge/HC que teve a banda O Mito da Caverna em seu elenco.

A CASA E O EVENTO

Infelizmente, mesmo tendo sido uma oportunidade inédita até então, o 1° Doom Fest teve um público pequeno, o que foi um pouco decepcionante tanto para as bandas quanto para a organização, embora, de certa forma, já esperado. Acredito que, infelizmente, isso tenha a ver com o fato de São José dos Campos estar afastada do centro da cidade de São Paulo, somado ao fato de que os fãs de Doom Metal já são escassos. Uma pena, devido a qualidade das apresentações que quem compareceu pôde conferir.

No entanto, a Hocus Pocus não é de dificil acesso, estando situada próxima às avenidas movimentadas por onde passam os ônibus intermunicipais, inclusive a cerca de 20 minutos a pé da rodoviária de SJC. Não é uma casa muito grande, mas ao menos para shows nessa linha, consegue acomodar bem o público (que, segundo o organizador Emerson da Silva, já chegou a cerca de 300 pressoas em outros eventos). A casa tem um bar, uma área com palco e uma área aberta com mesas onde podia-se sentar e conversar mais tranquilamente nos intervalos entre as bandas.

Por causa da pequena quantidade de pessoas ali, os shows acabaram ganhando um clima descontraído, já que muitos dos presentes já se conhecem através de sites como o Facebook, o que contrastava com a atmosfera pesada e melancólica das músicas das bandas.

Uma curiosidade, já que a cena Metal costuma ser bastante machista e dominada por homens, é que os públicos masculino e feminino estavam bem divididos em quantidade. Seria efeito das bandas de Gothic Doom que tocaram ou um sinal que as mulheres também gostam de Doom Metal tanto quanto os homens? Comentem abaixo, meninas! :D

OS SHOWS

A primeira banda da noite foi a Les Mémoires Fall, que é também a banda do responsável pelo evento, o Emerson (baixo e vocais guturais). A banda começou a tocar um pouco antes da meia noite, com o que foi pra mim uma grata surpresa, o cover de Strange Machines da banda The Gathering. Em seguida, a banda intercalou sons próprios com covers de Tristania e Theatre of Tragedy, durante cerca de 40 minutos, e fecharam o set com uma escolha curiosa, um cover de Countess Bathory, dos ingleses da banda Venom. A Les Mémoires toca um Gothic Doom Metal bem na linha das bandas das quais fez covers, talvez um pouco mais agressivo do que as mesmas. A banda ainda me parece um pouco crua e foi um pouco prejudicada em sua apresentação pela saída de seu baterista poucos dias antes do evento. Mesmo assim, não desistiram e tocaram com bastante vontade. Com o tempo e maior entrosamento, com certeza será um dos bons nomes do Gothic Doom paulista e nacional, principalmente levando em consideração suas músicas próprias já gravadas.

1- Strange Machines (cover The Gathering)
2- Deception
3- December Elegy (cover Tristania)
4- My Death
5- Venus (cover Theatre of Tragedy)
6- Tears
7- Countess Bathory (cover Venom)

A segunda banda foi a Sentenced Soil, fazendo somente covers de Draconian. A banda conseguiu agitar o público logo no início de seu set, executando seus covers muito bem, com performance muito boa da banda inteira, mas com a vocalista Jennifer realmente chamando a atenção com seus vocais. Os vocais guturais estavam um pouco baixos e, como entram normalmente nas partes de instrumental mais pesado, ficaram um pouco inaudíveis. Mesmo assim, até mesmo para mim, que não sou fã do estilo da banda, a Sentenced Soil conseguiu agradar, alternando momentos atmosféricos e depressivos com outros mais agitados, mais típicos do Gothic, e ainda injetando nessa mistura um certo peso, embora o teclado esteja sempre muito presente. O grande destaque da apresentação foi a música The Gothic Embrace, que ficou bastante pesada na versão da banda. Pelo que conversei com a vocalista depois do show, a banda pretende investir em composições próprias logo. Para os amantes do Gothic Doom e em especial os fãs de Draconian, uma ótima banda.

1- Intro Elysian Night / The Amaranth
2- Seasons Apart
3- The Last Hour of Ancient Sunlight
4- Earthbound
5- Bloodflower
6- Elysian Night
7- The Gothic Embrace
8- Intro (autoral da banda)
9- Heaven Laid In Tears

Se eu tivesse que resumir o show da banda HellLight em apenas uma palavra, ela seria "intenso". Embora eu tenha algumas reservas com relação ao CD mais recente da banda (And Then the Light of Consciousness Became Hell - colocarei uma resenha dele aqui em breve), a apresentação da banda foi tudo aquilo que eu esperava num show de Funeral Doom: denso, atmosférico, muito pesado e muito, MUITO intenso. Mesmo contando com apenas uma guitarra em sua formação, a banda nunca deixa a desejar em peso. Os vocais de Fábio são muito bons, tanto os limpos quanto os guturais, e sua guitarra tem um timbre poderoso e, nos momentos mais lentos, mais Funeral, das músicas, chega ao ponto de lembrar as bandas de Drone. O baixo também estava bem audível, dando ainda mais peso ao som, enquanto o teclado dita boa parte das melodias, uma característica da banda. A HellLight alterna momentos atmosféricos e extremamente melancólicos, com outros mais pesados, e outros mais agressivos, e mostrou muita garra. A postura dos membros da banda é curiosa, com o vocalista/guitarrista Fábio se movimentando bastante pelo palco, o baixista Alexandre agitando sem parar e o baterista Roberto tentando arrebentar seu kit nos momentos mais agressivos, e parecendo estar em transe nos momentos mais melancólicos, enquanto a tecladista Cássia permanece concentrada no seu instrumento. Eu diria que, se houve um ponto mais alto na apresentação, foi a música Deep Siderial Silence (do CD Funeral Doom), onde a banda tocou como se o mundo estivesse acabando e deixou esta faixa ainda mais forte que a versão original de estúdio. A música Funeral Doom, já clássico da banda, fechou de forma muito bela seu set.

1- Marche funebre
2- The light that brought darkness
3- Afterlife
4- Deep Siderial Silence
5- Funeral Doom

A banda a fechar a noite foi a Of the Archaengel, que começou a tocar por volta das 3 e meia da manhã e divulga seu mais recente CD Extraphysicallia. A banda faz um som bastante experimental e um pouco difícil de definir, com influências variadas de Death, Doom, Progressivo e, em alguns momentos, o Gothic. É dinâmico, agressivo e pesado, com partes atmosféricas e várias partes mais rápidas, até mesmo blasting beats. Definitivamente a banda mais técnica da noite, com ótimos músicos e performance insana, todos os membros agitaram durante toda a apresentação e fizeram um ótimo show, mesmo com um público ainda mais reduzido por causa do horário. Uma coisa que me chamou a atenção foi que a banda experimenta com diferentes timbres de guitarras e variações de tempo. O setlist da Of the Archaengel foi bem focado neste lado mais experimental e agressivo, com apenas duas músicas saindo um pouco dessa linha, a mais melancólica The Silence of the Dead Things, para mim, o destaque de seu set, o momento mais Doom Metal de seu show e com uma atmosfera muito interessante criada pelo som das guitarras (gostaria de ter ouvido mais músicas como ela, sem desmerecer as outras que foram tocadas), e outra, a faixa Black Raven, que destoou um pouco do restante do set, sendo praticamente um Gothic Rock mais pesado, mas que mesmo assim é uma faixa muito boa.

1- Sun Shaped Archangel
2- Consent to the Devilish Fantasies
3- Black Raven
4- The Silence of the Dead Things
5- Platino
6- With the Dragon's Hand


O Doom Fest definitivamente foi uma noite memorável para quem compareceu. Resta esperar agora que o público valorize eventos como este e compareça nos próximos, para que hajam mais e mais. A próxima edição do festival está prevista para agosto e haverão outros eventos Doom em SP e outros estados ainda este ano, fiquem ligados!

Abaixo, alguns videos com trechos das apresentações das bandas Les Mémoires Fall (Tears), Sentenced Soil (Heaven Laid in Tears) e HellLight (Deep Siderial Silence):





Um comentário:

  1. Muito obrigada Luciano,pela matéria,e pelos elogios!!
    Fico contente de que a galera gostou do nosso trabalho,e sim,em breve teremos aí a divulgação do nosso som próprio,que está à todo vapor!!

    Aproveitando o espaço,quem quiser conhecer nosso trabalho,temos vários vídeos no Youtube,e a página no Facebook que é:
    https://www.facebook.com/sentencedsoil

    Abraço e beijos à todos,espero vê-los em nossos próximos shows,^^.

    Jennifer - Vocalista Sentenced Soil.

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